sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Sobre Anthony Garotinho, Rede Globo, política e a polêmica entrevista ao RJTV



Depois de muito tempo, resolvi postar algo por aqui. Esse texto originalmente iria para o Facebook, mas como ficou muito grande achei que merecia outro espaço. Vamos falar sobre o grande espetáculo da Terra, "A peleja do Diabo com o dono do Inferno" (desculpa, Zé Ramalho. Mas não poderia perder essa piada).
Não é preciso ser tão meu amigo assim para saber qual a minha opinião sobre o candidato. Como pessoa que gosta de política e entende e exalta o legado de Leonel Brizola, posso dizer sem medo de pedradas que Garotinho e Lupi foram os dois maiores erros do velho caudilho em matéria de fazer política. Claro que o postulante a governador não tem o mínimo do materialismo político de Brizola, mas ele aprendeu direitinho com o velho o poder da oratória e o discurso das massas, aplicando a isso um viés populista no seu sentido mais controverso e destrutivo (o cara é radialista e sabe muito bem a força da palavra). E por mais que seja maluquice, não encaro a atual liderança dele nas pesquisas eleitorais como surpresa. O norte fluminense e a Região dos Lagos votam com ele (Campos, Macaé, Rio das Ostras, Búzios e por aí vai), assim como uma grande parte da região Serrana. Só que na minha opinião, uma possível vitória de Garotinho seria altamente destrutiva para o Estado, que já não vai bem das pernas em vários setores (segurança pública, transportes, habitação, etc).
Sobre Comunicação, vamos falar da Globo. E para isso sempre é bom resgatar a história. Em 1965, quando a concessão foi dada a Roberto Marinho, as Organizações Globo eram o baixo clero da imprensa brasileira. Os Diários Associados, maior pool de empresas de Comunicação que o Brasil já viu, iam mal das pernas (Chateubriand tinha tido um AVC cinco anos antes e estava praticamente vegetando, ao passo que a divisão das empresas e o endividamento caminhavam a passos largos). No cenário do jornal impresso várias publicações disputavam palmo a palmo o setor no Rio de Janeiro (Jornal do Brasil, O Jornal, Correio da Manhã, Diário de Notícias, Última Hora, O Globo, etc). Na TV, grande sensação e novidade da época, Tupi, Excelsior, Record e Continental eram os grandes canais. E no rádio, que estava enfraquecido pelo advento da TV, a Nacional ainda reinava absoluta tendo como principais rivais a Rádio Jornal do Brasil AM, a Rádio Tupi e a própria Rádio Globo.
Com o Golpe Militar de 1964, e o posterior endurecimento da Ditadura, toda essa profusão de empresas de Comunicação foi praticamente dizimada. Os Associados perderam muito terreno e seu império foi pulverizado. A TV Excelsior e o jornal Última Hora foram fechados, a Rádio Jornal do Brasil foi duramente perseguida e a TV Tupi foi praticamente desmantelada pelos militares. A única empresa de Comunicação que cresceu foi a Globo. O Jornal abocanhou uma significativa fatia do mercado, a TV contou com um acordo de parceria com o Grupo Time-Life norte-americano (proibido pela Lei Geral das Comunicações, diga-se de passagem) e a rádio assumiu boa parte dos ouvintes da Nacional, que definhou pela falta de investimentos públicos (já que é uma empresa estatal). Em contrapartida, para conquistar tudo isso que obteve em 20 anos, o grupo de Roberto Marinho sem pudor nenhum fez propaganda para o regime, em editoriais, matérias e programas, além de fazer vista grossa para os mandos, desmandos, corrupções e atentados à liberdade de pensamento e expressão praticados no período. A empresa só veio admitir seu alinhamento com a Ditadura Militar brasileira 50 anos depois do golpe, mas com seu pool consolidado, a concorrência dizimada e o tempo histórico passado mais de uma geração é muito fácil admitir...
Pra fechar essa parte, o caso de sonegação. Diversas publicações e sites de notícias menores com linha editorial voltada à esquerda já noticiaram e provaram com documentos que esse processo existe (Brasil de Fato, Diário do Centro do Mundo, ViOMundo, revista Vírus Planetário, pra citar algumas). Mas a grande mídia jamais irá noticiar esse fato, pois a mídia televisiva parasita as produções da Globo e vive em órbita da Vênus Platinada, e as demais mídias (exceto a internet) seguem o mesmo caminho. Só que a internet neste jogo faz o contraponto, com a independência que ainda lhe é peculiar. Diversos atores comunicaionais, por meio das redes de relacionamento, estão fazendo aquilo que o bom jornalismo deveria fazer, e por isso a Globo tenta de todas as formas travar as potencialidades da internet (assim como fez como filme Muito Além do Cidadão Kane, que tem sua exibição proibida no Brasil mas que todo mundo tem acesso fácil pelo Youtube) por meio de ações judiciais e projetos de lei estapafúrdios no Congresso Nacional, sustentados por políticos ligados a Organização.
Agora chegamos à entrevista. Quando se fala de campanha eleitoral, espera-se que as entrevistas com os candidatos sejam espaços para discutir idéias e propostas. Só que não é isso que vem acontecendo na TV Globo. Posso dizer que acompanhei as entrevistas de praticamente todos os candidatos a Presidência da República e ao Governo do Estado do Rio, e pude constatar que as pautas são elaboradas para “enquadrar” e intimidar. Não é debatida a fundo nenhuma proposta, o candidato tem que passar o tempo todo se defendendo e com isso é criada uma falsa sensação de que a Globo é democrática e está fazendo o papel do bom jornalismo. Só que quando alguém inverte o jogo de “pedra e vidraça” causa um tremendo estranhamento, como é o caso do Garotinho. Analisando bem por cima: a entrevistadora estava mal preparada (a Mariana Gross é uma ótima profissional, só que pegou pela frente um cara que é da área e com muito mais experiência); o candidato estava pronto pra ser fustigado; e a pauta deu enormes brechas para que Garotinho deitasse e rolasse em cima da entrevistadora.
Quando o entrevistado citou os casos de apoio à Ditadura Militar e o processo de sonegação de impostos o telespectador caiu para trás, e com razão. Garotinho fez o que todo mundo que torce o nariz pra Globo tem vontade de fazer, mas nunca teve espaço ou coragem para tal. Fazer esse tipo de acusação nas próprias câmeras da emissora soou como se ele fosse um paladino daqueles que não tem voz, mas é claro que não passou do momento, não passou disso. Todos sabem que no jogo eleitoral as ligações entre Garotinho, Pezão (Cabral), Crivella e Lindberg existem e são muito mais estreitas do que se supõem nessa atual disputa pelo Governo do Estado. É uma ciranda de Drummond impossível de ser desfeita.
E aí surgiram as críticas de pessoas politizadas diminuindo o fato pelo histórico de Garotinho. Nesse momento, peço aos senhores... Não confundam alhos com bugalhos. Jornalisticamente e historicamente o fato de Garotinho ter fustigado a Globo frente às suas próprias câmeras é espetacular. Foi a primeira vez que um político utilizou neste século a potencialidade da emissora para falar daquilo que grande parte do povo quer saber sobre a mesma. Mas não é isso que vai fazer as intenções de voto do mesmo subirem. O cidadão que tem suas críticas à Globo em sua maioria é um cidadão altamente crítico e sabe o estrago que Garotinho pode provocar caso seja eleito, além de conhecer o histórico de falcatruas do mesmo.
Resumindo... Esse espetáculo pirotécnico de Garotinho tem tudo pra não dar em nada. Mas vai entrar pro folclore político brasileiro, pois é uma das poucas vezes que o modelo político brasileiro canibaliza a si mesmo.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Governo Federal x SBT (Rachel Sheherazade): muito barulho por nada



E um dia após a efeméride do Dia do Jornalista (porque uma classe oprimida como a dos profissionais da Imprensa não tem nada o que comemorar) um debate permeia novamente as redações e pensadores do fazer jornalístico: a saída de Rachel Sheherazade da bancada do Jornal do SBT.

A SBT, emissora de Rachel Sheherazade, sucumbiu às pressões do Governo Federal para que retirassem a profissional da bancada do SBT Brasil, com a ameaça de cortar a verba destinada a TV. De acordo com números não-oficiais, o repasse do Governo Federal para a emissora é da ordem de R$ 150 milhões. Rachel nega a saída da bancada do SBT, afirmando que está de férias e retorna no dia 12 de abril.

Sobre este caso, algumas considerações:

1) Independente de quem estiver lá a linha editorial continuará a mesma. As moscas mudam mas a merda continua a mesma. O SBT só resolveu mudar por causa de uma questão financeira e não porque discorda das posições de Sheherazade;

2) O Governo Federal pode escolher, como qualquer outro setor que trabalhe com propaganda, onde vai investir dinheiro ou não. Contratos são feitos e desfeitos com incrível velocidade no mundo corporativo, mas o único que não pode desfazer um contrato é o governo. Isso é um tremendo contrassenso e vai inclusive de encontro ao laissez-faire do mercado. O Governo, na visão empresarial do mercado, pode fazer o que quiser com seus recursos de propaganda. Inclusive, na minha opinião pessoal, seria muito bom que o Governo Federal investisse na EBC e criasse um conglomerado de Comunicação público forte no lugar de colocar rios de dinheiro. O Reino Unido fez isso com a BBC e todo mundo tem a emissora britânica como referência de qualidade de programação;

4) Aprendemos nas faculdades que o Jornalismo é um mediador das relações entre poder constituído e sociedade, entre Estado e Povo, e que esta correlação de forças deve ser defendida pelo profissional da área. No entanto, quando Rachel Sheherazade resolve destilar toda a sua verborragia em rede nacional, usando como base conceitos arcaicos de Estado, Povo e religião, é extremamente nocivo que esta profissional se mantenha à frente de uma emissora com o alcance do SBT. O respeito a população e as classes menos abastadas passa também pelo respeito a Declaração Universal dos Direitos do Homem, no qual todos são iguais perante a lei, o "cidadão de bem" e o "criminoso". E fica bem claro que Sheherazade, dirigida por uma linha editorial equivocada e retrógrada, fala o que quer "porque é sua opinião" está condicionando a sociedade brasileira a uma divisão em castas com base no poder financeiro e influência social.

Resumindo: Sheherazade está fora. Por enquanto. A poeira vai baixar, as eleições passarão, todos apertarão as mãos em um belo acordo de barões e esta senhora, com todos os seus preconceitos, voltará a destilar seu veneno na mídia brasileira. Porque para ela sempre haverá vaga, pois faz o papel dos donos da mídia brasileira. Enquanto o exército de reserva de jornalistas que está aí fora e tem preocupação com a vida humana e com a sociedade como um todo ficará ganhando 800 reais por um mês de escrita incessante e sofrendo pressões de chefes e diretores.

Abraços!