Depois de muito tempo,
resolvi postar algo por aqui. Esse texto originalmente iria para o Facebook,
mas como ficou muito grande achei que merecia outro espaço. Vamos falar sobre o
grande espetáculo da Terra, "A peleja do Diabo com o dono do Inferno"
(desculpa, Zé Ramalho. Mas não poderia perder essa piada).
Não é preciso ser tão meu
amigo assim para saber qual a minha opinião sobre o candidato. Como pessoa que
gosta de política e entende e exalta o legado de Leonel Brizola, posso dizer
sem medo de pedradas que Garotinho e Lupi foram os dois maiores erros do velho
caudilho em matéria de fazer política. Claro que o postulante a governador não
tem o mínimo do materialismo político de Brizola, mas ele aprendeu direitinho
com o velho o poder da oratória e o discurso das massas, aplicando a isso um
viés populista no seu sentido mais controverso e destrutivo (o cara é
radialista e sabe muito bem a força da palavra). E por mais que seja maluquice,
não encaro a atual liderança dele nas pesquisas eleitorais como surpresa. O
norte fluminense e a Região dos Lagos votam com ele (Campos, Macaé, Rio das
Ostras, Búzios e por aí vai), assim como uma grande parte da região Serrana. Só
que na minha opinião, uma possível vitória de Garotinho seria altamente
destrutiva para o Estado, que já não vai bem das pernas em vários setores (segurança
pública, transportes, habitação, etc).
Sobre Comunicação, vamos
falar da Globo. E para isso sempre é bom resgatar a história. Em 1965, quando a
concessão foi dada a Roberto Marinho, as Organizações Globo eram o baixo clero
da imprensa brasileira. Os Diários Associados, maior pool de empresas de
Comunicação que o Brasil já viu, iam mal das pernas (Chateubriand tinha tido um
AVC cinco anos antes e estava praticamente vegetando, ao passo que a divisão
das empresas e o endividamento caminhavam a passos largos). No cenário do
jornal impresso várias publicações disputavam palmo a palmo o setor no Rio de
Janeiro (Jornal do Brasil, O Jornal, Correio da Manhã, Diário de Notícias,
Última Hora, O Globo, etc). Na TV, grande sensação e novidade da época, Tupi, Excelsior,
Record e Continental eram os grandes canais. E no rádio, que estava
enfraquecido pelo advento da TV, a Nacional ainda reinava absoluta tendo como
principais rivais a Rádio Jornal do Brasil AM, a Rádio Tupi e a própria Rádio
Globo.
Com o Golpe Militar de
1964, e o posterior endurecimento da Ditadura, toda essa profusão de empresas
de Comunicação foi praticamente dizimada. Os Associados perderam muito terreno
e seu império foi pulverizado. A TV Excelsior e o jornal Última Hora foram
fechados, a Rádio Jornal do Brasil foi duramente perseguida e a TV Tupi foi
praticamente desmantelada pelos militares. A única empresa de Comunicação que
cresceu foi a Globo. O Jornal abocanhou uma significativa fatia do mercado, a
TV contou com um acordo de parceria com o Grupo Time-Life norte-americano
(proibido pela Lei Geral das Comunicações, diga-se de passagem) e a rádio
assumiu boa parte dos ouvintes da Nacional, que definhou pela falta de
investimentos públicos (já que é uma empresa estatal). Em contrapartida, para
conquistar tudo isso que obteve em 20 anos, o grupo de Roberto Marinho sem
pudor nenhum fez propaganda para o regime, em editoriais, matérias e programas,
além de fazer vista grossa para os mandos, desmandos, corrupções e atentados à
liberdade de pensamento e expressão praticados no período. A empresa só veio
admitir seu alinhamento com a Ditadura Militar brasileira 50 anos depois do
golpe, mas com seu pool consolidado, a concorrência dizimada e o tempo
histórico passado mais de uma geração é muito fácil admitir...
Pra fechar essa parte, o
caso de sonegação. Diversas publicações e sites de notícias menores com linha
editorial voltada à esquerda já noticiaram e provaram com documentos que esse
processo existe (Brasil de Fato, Diário do Centro do Mundo, ViOMundo, revista
Vírus Planetário, pra citar algumas). Mas a grande mídia jamais irá noticiar
esse fato, pois a mídia televisiva parasita as produções da Globo e vive em
órbita da Vênus Platinada, e as demais mídias (exceto a internet) seguem o
mesmo caminho. Só que a internet neste jogo faz o contraponto, com a
independência que ainda lhe é peculiar. Diversos atores comunicaionais, por
meio das redes de relacionamento, estão fazendo aquilo que o bom jornalismo
deveria fazer, e por isso a Globo tenta de todas as formas travar as
potencialidades da internet (assim como fez como filme Muito Além do Cidadão
Kane, que tem sua exibição proibida no Brasil mas que todo mundo tem acesso
fácil pelo Youtube) por meio de ações judiciais e projetos de lei estapafúrdios
no Congresso Nacional, sustentados por políticos ligados a Organização.
Agora chegamos à
entrevista. Quando se fala de campanha eleitoral, espera-se que as entrevistas
com os candidatos sejam espaços para discutir idéias e propostas. Só que não é
isso que vem acontecendo na TV Globo. Posso dizer que acompanhei as entrevistas
de praticamente todos os candidatos a Presidência da República e ao Governo do
Estado do Rio, e pude constatar que as pautas são elaboradas para “enquadrar” e
intimidar. Não é debatida a fundo nenhuma proposta, o candidato tem que passar
o tempo todo se defendendo e com isso é criada uma falsa sensação de que a
Globo é democrática e está fazendo o papel do bom jornalismo. Só que quando
alguém inverte o jogo de “pedra e vidraça” causa um tremendo estranhamento,
como é o caso do Garotinho. Analisando bem por cima: a entrevistadora estava
mal preparada (a Mariana Gross é uma ótima profissional, só que pegou pela
frente um cara que é da área e com muito mais experiência); o candidato estava
pronto pra ser fustigado; e a pauta deu enormes brechas para que Garotinho
deitasse e rolasse em cima da entrevistadora.
Quando o entrevistado
citou os casos de apoio à Ditadura Militar e o processo de sonegação de
impostos o telespectador caiu para trás, e com razão. Garotinho fez o que todo
mundo que torce o nariz pra Globo tem vontade de fazer, mas nunca teve espaço
ou coragem para tal. Fazer esse tipo de acusação nas próprias câmeras da
emissora soou como se ele fosse um paladino daqueles que não tem voz, mas é
claro que não passou do momento, não passou disso. Todos sabem que no jogo
eleitoral as ligações entre Garotinho, Pezão (Cabral), Crivella e Lindberg
existem e são muito mais estreitas do que se supõem nessa atual disputa pelo
Governo do Estado. É uma ciranda de Drummond impossível de ser desfeita.
E aí surgiram as críticas
de pessoas politizadas diminuindo o fato pelo histórico de Garotinho. Nesse
momento, peço aos senhores... Não confundam alhos com bugalhos.
Jornalisticamente e historicamente o fato de Garotinho ter fustigado a Globo
frente às suas próprias câmeras é espetacular. Foi a primeira vez que um
político utilizou neste século a potencialidade da emissora para falar daquilo
que grande parte do povo quer saber sobre a mesma. Mas não é isso que vai fazer
as intenções de voto do mesmo subirem. O cidadão que tem suas críticas à Globo
em sua maioria é um cidadão altamente crítico e sabe o estrago que Garotinho
pode provocar caso seja eleito, além de conhecer o histórico de falcatruas do
mesmo.
Resumindo... Esse
espetáculo pirotécnico de Garotinho tem tudo pra não dar em nada. Mas vai
entrar pro folclore político brasileiro, pois é uma das poucas vezes que o
modelo político brasileiro canibaliza a si mesmo.